segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Estudo. Portugueses não arriscam ser empreendedores por medo de falharem


Status que as sociedades dão aos empreendedores é determinante

O maior ou menor grau de empreendedorismo está directamente relacionado com a forma como essa característica é encarada pelas diversas sociedades. O estudo que mede esta performance a nível mundial, o Global Entrepreneuship Monitor (GEM) de 2012, refere que em Portugal 16% dos inquiridos tem a percepção que existem oportunidades nesta área, enquanto 47% acredita ter capacidades para se lançar no seu próprio projecto ou negócio. Contudo, 42% acaba por não arriscar por ter medo de falhar.

O MEDO DO FRACASSO Este sentimento é uma das principais razões que leva as pessoas a desistirem de avançar com as suas próprias ideias de negócio. Os habitantes da África Subsaariana são os que apresentam os menores níveis de medo do fracasso, com apenas 24% de todos os entrevistados a indicar que este receio os pode levar a não abrir uma empresa. A América Latina e o Caribe também apresentaram baixos níveis médios neste indicador (28%). O medo do fracasso geralmente também aumenta em função das carreiras pessoais e dos países onde as pessoas vivem, sendo maior em fases mais adiantadas da vida profissional dos trabalhadores e nos países mais desenvolvidos. O Malawi apresenta a menor taxa de medo do falhanço da amostra (12%), com a Grécia e a Itália a apresentarem os índices mais altos neste indicador (61% e 58% respectivamente).

CRENÇAS SOBRE EMPREENDEDORISMO Este é outro factor determinante. Na América Latina/Caribe, Médio Oriente, Norte de África e nas regiões da África Subsaariana, mais de três quartos dos inquiridos considera o empreendedorismo como uma boa opção de carreira. Mas já quanto ao status que a sociedade lhe confere, os apoiantes são em muito menor número na América Latina e nas Caraíbas, países que consideram que os media não reconhecem devidamente o esforço individual. Na UE, apenas cerca de metade dos entrevistados concordaram que o empreendedorismo foi uma boa escolha de carreira e recebeu dos media uma atenção positiva, embora dois terços atribuam um status elevado ao facto de a pessoa lançar o seu próprio negócio. É provável que este último sentimento tenha directamente a ver com o facto de haver mais alternativas para os empreendedores junto de empresas e governos nas economias desenvolvidas.

EMPREENDEDORISMO E MIGRAÇÃO O mais recente inquérito GEM acrescentou algumas perguntas sobre a migração internacional, sobretudo tendo em conta que actualmente existem mais de 210 milhões de migrantes no mundo inteiro, sendo expectável que o número de pessoas que saem dos seus países para trabalhar noutros continue a aumentar na próxima década. Uma das conclusões do estudo é que o empreendedorismo migrante tem um potencial importante de contribuição substancial para as duas economias envolvidas - a do país de origem e a do país que acolhe o empreendedor - através da partilha de conhecimento e transferência de informação, incremento do comércio global, criação de emprego e outros benefícios.

Em inovação e factores de competitividade (como os custos do trabalho e de contexto, que são altamente sensíveis aos ciclos económicos, preços das commodities e flutuações cambiais) os dados mostram que existe um padrão muito diferente entre a TEA (taxa de empreendedorismo) dos migrantes, que é mais alta relativamente à dos não migrantes. Os resultados do inquérito destacam também a tendência dos migrantes para se transformarem em empresários, em particular quando se trata de projectos que envolvam inovação e trocas comerciais. A proporção de empresários imigrantes com a expectativa de criar 10 ou mais postos de trabalho foi de 25% nas economias mais eficientes (não-migrantes 16%), 23% nas economias onde a mão de obra barata é a base da competitividade (não-migrantes 9%) e 20% nas economias impulsionadas principalmente pela inovação (não-migrantes 14%). Mais de metade dos empresários imigrantes também defende que vender produtos e serviços para fora do seu país é o seu principal objectivo, enquanto apenas um terço dos empresários não migrantes reconhece ter a mesma finalidade. Este padrão foi semelhante em economias orientadas para a inovação, com uma diferença menor entre migrantes e não--migrantes. Nas economias onde o factor trabalho continua a ser mal remunerado, os migrantes não são mais propensos do que os não-migrantes quando se trata de exportarem.

As economias do Norte e do Sul da União Europeia diferem substancialmente na forma como vêem o empreendedorismo. Nos países nórdicos, como por exemplo a Dinamarca, a Estónia, a Finlândia, a Noruega e a Suécia, as pessoas têm a percepção de que existem oportunidades para abrirem os seus negócios mas geralmente acreditam menos nas suas capacidades para tal. Já em algumas economias do Sul da Europa, como na Grécia, Itália, Portugal e Espanha, as pessoas percebem menos as oportunidades mas acreditam mais nas suas capacidades para abrirem os seus próprios negócios.

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